terça-feira, 19 de agosto de 2014

“SOU CATÓLICO E MAÇOM. POSSO TAMBÉM COMUNGAR?”

COLUNA EM DIA COM A IGREJA NO JORNAL CORREIO DA SEMANA COM PADRE EMÍDIO MOURA GOMES
Geraldo mora em São Paulo e veio, nesta semana, para as festas dos 50 anos de casamento dos seus pais. Veio me visitar e afirmou, perguntando-me: “Sou católico e maçom. Posso também comungar?”. “Vou dar-lhe, respondi eu, uma opinião num texto que publiquei tempos atrás, na coluna Em Dia com a Igreja, do Correio da Semana. Voltou depois, para pedir-me: “Padre, publique de novo aquele texto. “Será muito útil para quem ainda não viu.” é o que faço agora: “Um leitor desta coluna me pediu: “padre, escreva sobre esta pergunta: “um católico pode ser também maçom?". O tema é polêmico. Sobre o assunto, interroguei a mais de um padre. Estes me disseram: “não pode”. Interrogadas também, pessoas que frequentaram a Maçonaria disseram: “Pode. Até padres têm sido maçons”. Na pressa de dar ao meu leitor uma resposta, pensei em falar-lhe logo do jeito daquele meu antigo professor lá da Teologia no Seminário da Prainha, o padre Arruda. Na sala de aula, diante de questionamentos como este, parecendo ingênuo, saía-se assim: “Bom, os que afirmam, dizem que sim; já os que negam, dizem que não!”. Só que as coisas não são tão simples assim. Na abordagem de assuntos como este, é conveniente pesquisar e levar em conta a diversidade de informações e pontos de vista. São assuntos para especialistas. A Maçonaria moderna, presente também entre nós, é um destes. Para o monge beneditino, dom Estevão Bettencourt, a Maçonaria “é tida como uma das diversas agremiações esotéricas. Como tal, ela é vista como doutrina secreta, guardada por uma sociedade e só transmitida a iniciados; teve sua origem no século XVIII, na Inglaterra; é herdeira das corporações de pedreiros da Idade Média. Construtores de catedrais, eles tinham a bênção e a proteção das autoridades da Igreja, e tinham seus segredos profissionais; essas corporações, naquele século, começaram a receber em suas fileiras, pensadores e filósofos; seus primeiros estatutos foram redigidos pelo pastor presbiteriano James Anderson; professavam estes a existência do Grande Arquiteto do Universo, sem descer a explicitações”. É bem conhecido que historicamente a Igreja Católica já se opôs radicalmente à Maçonaria, devido aos seus princípios percebidos, supostamente, como anticristãos e libertários, determinando, inclusive, no anterior Código de Direito Canônico (o de 1917, can. 2335), a excomunhão para os católicos que a ela aderissem. Ainda no século XIX, a Maçonaria se bifurcou em “regular” (a Loja Mãe, Grande Loja Unida da Inglaterra, detentora dos princípios religiosos de sua origem, e “irregular” (Grande Oriente da França), avessa à religião. Este fato histórico não pode ser esquecido em qualquer análise sobre a Igreja e a Maçonaria. Também na busca de resposta à pergunta do leitor. OS QUE NEGAM, DIZEM QUE NÃO! Sobre a questão, com todo respeito às pessoas envolvidas no assunto, é certo que, oficialmente, o Magistério da Igreja foi e vem-se mantendo expressamente contrário ao ingresso de católicos na Maçonaria, mesmo após o Concílio Vaticano II e a nova edição do Código Canônico, de 1983. Se, na nova versão do Código, não há citação expressa da palavra Maçonaria, fala-se de restrição a sociedades adversas à Igreja. As divergências de modos de relacionamentos entre a Igreja e a sociedade maçônica ficam por conta de interpretações, de modos de pensar, possibilitando em muitos lugares um entendimento favorável e uma compreensiva aproximação e tolerância. Daí o questionamento. Não desconheço o modo de ver de respeitados teólogos e pastoralistas católicos de hoje, que, com base nas declarações e documentos da Igreja, negam atualmente a possibilidade ética de um católico ser ao mesmo tempo maçom, defendendo que está proibida pela Igreja a inscrição de católico na Maçonaria. Se tal acontecer, dizem, incorreria o católico em pecado grave, que o afastaria até da Comunhão Eucarística. E citam para justificar, como documento oficial saído da Igreja, a Declaração sobre a maçonaria, assinada pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI. Isto em 26 de Novembro de 1983, já na vigência do novo Código de Direito Canônico. O texto afirma que permanece imutável o parecer negativo da Igreja a respeito das associações maçônicas, pois os seus princípios foram sempre considerados inconciliáveis com a doutrina da Igreja e por isso permanece proibida a inscrição nelas. Os fiéis que pertencem às associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da Sagrada Comunhão”. OS QUE AFIRMAM, DIZEM QUE SIM! Mas, na polêmica questão, abro espaço para o que, por exemplo, falou dom Lelis Lara, há poucos anos, em 2009, em palestra proferida em um Templo da Loja Maçônica União de Ipatinga (SP). Dom Lara, bispo Emérito, é Consultor Jurídico da CNBB. Conhecedor também dos termos da Declaração sobre a Maçonaria, acima citada, ele enfatizava, no entanto, em sua palestra, a aproximação da Igreja Católica com a Maçonaria depois do Vaticano II. O que disse são palavras contrárias ao ensinamento do Magistério da Igreja. A atitude de dom Lara até foi reprovada por muitos. Segundo o bispo, o Concílio Vaticano II (1963-1965) escancarou as portas e janelas da Igreja para o mundo. Depois do Concílio, disse ele, o propósito da Igreja Católica é se aproximar de todas as pessoas do mundo, sem preconceito, sejam elas cristãs ou não. Foi exatamente no espírito do Concílio Vaticano II que dom Lara se inspirou para falar assim da relação entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Ele disse que “quando se fala de Igreja e Maçonaria, muitas vezes se estabelece ou se imagina um confronto entre essas duas entidades, mas não deveria ser assim, porque católicos são cristãos e os maçons também, senão todos, certamente grande parte. E Jesus, ao final de sua vida, deixou para os seus seguidores o testamento de que devemos amar uns aos outros”. Mas, segundo o bispo, “esta palavra de Jesus não foi sempre bem entendida. Ás vezes é entendida de acordo com a índole das pessoas, e as pessoas mais radicais muitas vezes ficam com o coração armado, na defensiva ou no ataque, quando, como filhos de Deus, deveriam viver como irmãos, com o coração desarmado, respeitando as diferenças”. Logo no início, Dom Lara apresentou, de forma objetiva, a história da Igreja Católica, destacando a sua caminhada - que já dura mais de dois mil anos. E acrescenta queinstituição é como um barco no meio do oceano, que passou por muitos escolhos e superou muitas tempestades, e que procura sempre se adaptar aos tempos. O bispo lembrou ainda que o Papa João XXIII, autor da convocação do Concílio Vaticano II, foi o grande responsável por colocar a Igreja Católica no caminho da atualização. Entretanto, segundo Dom Lara, este trabalho de atualizar a Igreja não é fácil, porque há várias correntes ou tendências dentro da própria Igreja, o que dificulta a caminhada. Ao longo de sua exposição, lembrou que, uma vez constatado que o anticlericalismo e anticatolicismo se verificam apenas na Maçonaria irregular, e não são da essência da Maçonaria universal, ou regular, é, disse, cada vez mais forte o movimento de aproximação entre a Igreja Católica e a Maçonaria. E é neste contexto, concluiu, que se deve colocar os pronunciamentos da Igreja após o Concílio Vaticano II. Diante da polêmica, como devemos agir na prática pastoral? O mesmo dom Lara, em 2004, em correspondência anterior àquela sua conferência na Loja maçônica, e com exposição de vários motivos, até afirmara a inconciliabilidade entre a Igreja Católica e a Maçonaria. Na ocasião, mesmo opinando que não há razões que justifiquem o ingresso de um católico na Maçonaria, ponderou: “Parece-me que, de modo geral, em nossa região, a Maçonaria é considerada como uma espécie de clube de serviço, mais ou menos à semelhança do Rotary Club e Lions Club. Muitos de nossos fiéis, mesmo agentes de pastoral e outros bem engajados e participantes, são membros da Maçonaria. Estes dizem que não estão percebendo nada que contrarie a Doutrina Católica. Caso percebam contradições entre princípios da Maçonaria e a doutrina da Igreja Católica, devem fazer sua opção. Se, neste caso, optarem pela Maçonaria, já não serão católicos.”. Como agir diante da pergunta do leitor; “Como católico, posso ou não posso ser maçom?...”. Fazer como Dom Walfrido Teixeira? Quando bispo diocesano de Sobral, ele orientava seus diocesanos assim: “Você fica lá até enquanto não perceber que ali se trama alguma coisa contra a Igreja Católica?!”. Ou, simplesmente afirmar que comete pecado grave quem, sendo católico, se faz maçom? Ou, será melhor responder como o saudoso padre Arruda, lá da Prainha: “os que afirmam dizem que sim; os que negam dizem que não”? Informado agora de tudo, como o leitor acha que deve ser a resposta”?  *Professor do Instituto de Teologia e Pastoral (ISTEP) e Pároco de Cruz. Fonte da matéria no link do Jornal Correio da Semana da cidade de Sobral-Ceará.
http://jornalcorreiodasemana.com/css/index.php/em-dia-com-a-igreja/3666-sou-catolico-e-macom-posso-tambem-comungar - Estas e outras no diário de notícia do pesquisador da Pré-história Célio Cavalcante membro correspondente da ACEJI e do Jornal Circular da cidade de Sobral-Ceará.

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